Saturday, November 8, 2014

Alemão: onde estou e como vai ser daqui pra frente

Aprender alemão foi uma escolha que demorou a ser feita. Lembro que sempre tive uma relação de curiosidade e repulsa ao idioma em questão. Muito frequentemente me diziam que era uma língua "extremamente difícil" e que "os alemães ainda são um povo muito racista e xenofóbico". Naquela época, eu dava muito ouvido ao que diziam, ainda que com certa desconfiança. Entretanto, nunca quis me dar ao trabalho de confirmar ou desmentir tais afirmações.

Certa vez, lá no ano de 2007, um colega do curso de italiano me emprestou um dicionário de alemão após eu ter-lhe dito que nutria uma certa curiosidade pelo idioma de Göethe. Mas tenho nítidas recordações de que o material ficou por muito tempo na minha estante sem ser utilizado. Sempre que eu o abria, sentia uma certa repulsa por aquelas palavras cheias de consoantes e que cujas grafias chegavam a me dar um "nó na vista". Ainda não era a hora.

Dois anos depois, já na graduação, um de meus professores, o de Latim, mais especificamente, frequentemente contava como foi seu doutorado em Linguística Românica na Alemanha (Apesar de a Alemanha ser um país de língua germânica, possui os melhores cursos de Romanística de toda a Europa). Foi então que me dei conta de que, sim, era hora de encarar o desafio de adquirir uma nova língua estrangeira, pois vislumbrava a possibilidade de ser aceito em algum programa de pós-graduação naquele país. Muito em breve, comecei a adquirir uma vasta gama para aprender alemão: métodos, gramáticas e mais gramáticas, livros-textos etc. No ano seguinte, mais exatamente em 2010, larguei a disciplina eletiva de francês na universidade para poder frequentar as aulas de alemão num centro de idiomas aqui da cidade. Foi um ano difícil. Difícil não só pelo próprio começo da aprendizagem de um novo idioma, como também por causa de várias outras questões pessoais. Foi um ano cinza. Ainda assim, matriculei-me em outro curso de língua alemã após ter dado de cara com um conflito de horários com o da instituição anterior. Apesar de o curso ter custado caro, acabei aproveitando muito pouco por simplesmente não me dedicar, muito menos me expor, à língua alemã fora da sala de aula. 2h30 por semana não é o suficiente para se alcançar um nível digno de fluência em pouco tempo. Enfim, meu foco e prioridades eram outros.

Em 2012, ganhei uma bolsa de estudos pros Estados Unidos. Além de mim, havia mais duas brasileiras, um francês e uma alemã no grupo dos estudantes estrangeiros. Ela era encantadora. Ao demonstrar-lhe meus (tímidos) conhecimentos em alemão até então, conquistei sua simpatia logo no primeiro dia. Contudo, concentrei-me no inglês o máximo que pude, e meu alemão acabou enferrujando. Como os americanos dizem, "If you don't want to lose it, use it!".

Certo dia, fui pego de surpresa ao ter que falar com ela em alemão ao telefone em determinada situação. Fôramos convidados por uma igreja para um jantar com todos os graduandos estrangeiros da cidade. Nos EUA, o mais conveniente é andar de carro, pois tudo pode ser muito longe, e o serviço de transporte da minha cidade era bem moroso. O de Recife, apesar dos pesares, ganha em diversidade de roteiros e opções...
Dois alunos ficaram de dar carona a mim e a meu colega de quarto, já que um amigo que morava no mesmo andar que nós não estava atendendo nossas ligações. Daí, quando os dois outros alunos e eu já estávamos a caminho do carro deles, o meu colega de quarto me ligou e passou pra a minha amiga alemã falar comigo, insistindo que deveria ir com ela e os demais. Pronto, lá estava em saia justa. Como iria fazer pra dizer a ela que agradecia muito a insistência, mas que tudo já estava combinado com os dois colegas? Em poucos instantes, estava eu balbuciando tudo o que conseguia lembrar em alemão. E adivinha só: deu certo! E a sensação de ter conseguido me comunicar em alemão numa situação real de comunicação foi indescritível.

Logo que voltei ao Brasil, estava decidido a retomar minha aprendizagem e logo encontrei maneiras de fazer com que o alemão estivesse presente no meu dia a dia. Encontrei um Tandem (language exchange partner), um professor de Berlin, que trabalhava como professor-leitor lá na universidade. Fiz amizade com um outro alemão aqui na cidade, além de tornar-se bom amigo de um senhor do oeste da Alemanha. Com eles três, meu alemão deu um grande salto, saindo do A2 (iniciante) e aterrissando no B1 (pré-intermediário) em poucos meses. Segui um conselho que colega brasileiro me deu: concentre-se primeiro na competência comunicativa, não na gramatical/linguística. Funcionou e tem funcionado.

Há algumas horas, retornei de um encontro com uma colega alemã que conheci no Encontro de Línguas Recife e fiquei muito feliz com meu desempenho. Óbvio que me faltou vocabulário em determinados momentos (nada que não pudesse ser resolvido com a gentileza e atenção dela), mas, em geral, falamos de vários assuntos dentro dos limites linguísticos em nossas respectivas línguas estrangeiras. Fico feliz por ela ter elogiado minha pronúncia, que era ótima apesar de eu nunca ter viajado para a Alemanha ou ter vivido naquele país. Fico feliz por ter compreendido praticamente tudo o que conversamos, ter aprendido novos vocabulários e ter visto todo meu esforço e dedicação para com o alemão. Porém, ainda estar no nível B1 após cinco anos de estudos é, de alguma maneira, um sinal de que é hora de rever meus planos e prioridades. Tenho cinco filhos, que atendem pelo nome de inglês, italiano, francês, espanhol e alemão. Este último é o que tem exigido mais de mim devido a sua complexidade ser maior do que seus irmãos neolatinos. Visto que meus planos de estudos e vivência no exterior se distanciam cada vez mais da Alemanha, percebi que, a curto e longo prazo, é melhor eu me concentrar no francês. Minha meta é alcançar o nível B2 (intermediário, usuário independente da língua) no idioma de Rousseau e Baudelaire, o que vai ser bem mais rápido agora que aprendi muito sobre como aprender. A língua alemã me fez rever conceitos, repensar ideias e concepções sobre como aprender, mas insistir em demasiado nela seria apenas uma distração perante meus novos planos. Vou regar minha florzinha germânica, mas pretendo cuidar com afinco da minha plantação francesa. 

Bem, é isso. E vocês, a quantas anda a aprendizagem da língua estrangeira de vocês? Comenta aí! :D

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