Thursday, January 16, 2014

A pronúncia vem primeiro

Já perceberam que na maioria dos materiais ou métodos de idiomas existe, geralmente no início destes, uma seção dedicada à pronúncia daquela língua em questão? Isso tem um motivo: fazer com que você, logo no início da aprendizagem, se aproprie de algo tal fundamental em qualquer idioma estudado: os fonemas (a grosso modo, os "sons").
 
Na universidade, uma professora minha de francês fazia questão de nos corrigir quando errávamos (leia-se errávamos feio) a pronúncia de algum vocábulo francês após terminarmos o que dizíamos (não, não era em modo de ‘correct correction’, já que ela não nos interrompia enquanto falávamos/errávamos). Não, ela não era tirana. Ela apenas queria que não criássemos nem internalizássemos, de acordo com suas palavras, um 'eco negativo' de pronúncia. Tendo em vista que a relação entre pronúncia e escrita da língua francesa é mais ou menos controversa (isso se deve ao fato de que o código escrito permaneceu inalterado ao passo que a língua falada naturalmente sofreu mudanças principalmente quando da Revolução Francesa), eu achava mais do que digna uma atitude daquelas. Pra mim e pra a turma em questão funcionava sem problemas. Posteriormente, encontrei num material de romeno uma explicação parecida com a da minha professora de francês. Parafraseando o autor, maus hábitos de pronúncia tendem a permanecer se não eliminados ou reduzidos desde o começo do processo de aprendizagem e vão acabar comprometendo sua comunicação na língua estrangeira em questão.
 
Cada pessoa tem sua própria maneira de estudar e aprender a pronúncia de uma língua estrangeira. Não estou aqui dizendo que tenho uma pronúncia impecável, a nível de "nativo" (todo nativo tem um sotaque característico de sua região, país, grupo sócioeconômico etc.), nos idiomas que aprendi, mas considero ter um domínio digno do conjunto de sons que constituem cada uma delas (as vogais são uma dor de cabeça!). Ainda erro, mas tento fazê-lo o menos possível.
 
Comecei a aprender inglês em 2003 e naquela época eu não dispunha de muitos recursos. Como não tinha computador com acesso à internet em casa, então tinha que me debruçar sobre gramáticas (depois eu vou fazer um post sobre domínio gramatical vs. competência comunicativa) e passar horas e horas batendo papo no falecido MSN Messenger, trocando ideias com contatos europeus, muitos dos quais ainda mantenho contato até hoje em dia. Atualmente, temos à nossa disposição no Youtube muito material produzido por profissionais e que mostram até como gesticular os músculos faciais e labiais para emitir com precisão os fonemas de quaisquer idiomas que você estiver aprendendo. Na minha época, tinha que ler como gesticular (e imaginar como se gesticularia) para poder emitir um dado fonema. Não era nada fácil.
 
O meu método para me familiarizar e aprender os sons de um idioma é o seguinte:
 
1) Dedico atenção total aos fonemas que constituem aquele idioma. Devido às cadeiras de linguística e fonética que paguei na graduação, estou bastante familiarizado com o Alfabeto Fonético Internacional (International Phonetic Alphabet ou IPA). Escrevo letra por letra e coloco o símbolo fonético ao lado. Existem línguas em que a mesma letra representa mais de um som, a depender de sua posição na palavra ou até mesmo numa frase ou oração (ex.: a letra ‘s’ do português assume valores fonéticos distintos em sapato /s/, casa /z/, e em "Quero mais /z/ uma cerveja). Passo semanas e semanas até ter internalizado bem a maioria dos fonemas.
 
2) Leio em voz alta pra colocar em prática o que aprendi. Recomeço sempre que percebo que errei, mas isso é um perfeccionismo meu e, em se tratando de aprender línguas estrangeiras, ser perfeccionista pode constituir entraves sérios no processo de aprendizagem. A meu ver, tudo depende dos seus objetivos de aprendizagem, do seu controle emocional, como você lida com frustrações etc.
 
3) Converso ou leio em voz alta com um amigo nativo pelo Skype e peço pra me dar um feedback, apontando quais aspectos posso melhorar e em quais estou indo bem.
 
4) Esta próxima é uma técnica bastante pessoal e não sei se se aplica a todos: leio silenciosa e mentalmente. Sei de gente que ressoa a própria voz mentalmente em língua materna mas não em língua estrangeira, gente que ressoa em ambas etc. Depende muito de cada um.

Sinceramente, se eu fosse formular um método ou curso de idiomas, dedicaria várias aulas apenas ao ensino da pronúncia aos meus alunos. Muitos cursos (e não os vou nomear por questões éticas e profissionais), com medo de perder os alunos, passam por cima de algo tão primordial que é o ensino dos fonemas e aquisição de uma boa pronúncia na língua estrangeira, ao passo que a maioria dos alunos brasileiros se eximem de querer aprender a aprender.
 
Quanto menos a sua língua materna interferir na língua estrangeira, melhor.
 
Dúvidas, sugestões, críticas ou correções? Por favor, é só escrever nos comentários! :)
 
Até o próximo post!
 
Luiz Lucena